Além da covid-19, Brasil vive pandemia de violência doméstica

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Publicado em 12 de julho de 2020 no Grupo Bandeirantes de Comunicação

Canal Livre deste domingo, 12, abordou o tema da violência contra as mulheres e o impacto do isolamento neste quadro que já é tão sério. Os números que preocupam e as iniciativas para enfrentar esse problema.

Com apresentação de Rodolfo Schneider, e perguntas dos jornalistas Fernando Mitre e Cynthia Martins, o programa teve, entre os especialistas convidados, a participação da promotora de Justiça Gabriela Manssur que notou, com a pandemia de coronavírus no Brasil, uma queda nas denúncias de violência doméstica em delegacias, mas um aumento significativo de pedidos de ajuda dessas vítimas por ferramentas online.

“Foi necessário, nesse caso, buscar mecanismos para garantir o acesso dessas mulheres que sofrem violência e não conseguem sair de suas casas para ir a uma delegacia ou Casa da Mulher Brasileira”, diz Manssur, que está por trás do projeto Justiceiras, que recebe denúncias através do WhatsApp, pelo número (11) 99639-1212.

Outra medida importante é o projeto Sinal Vermelho para a Violência, que acolhe mulheres que não tem acesso a um celular, por exemplo. Para pedir ajuda, basta desenhar um X vermelho na palma da mão, ir até uma farmácia e mostrar para algum funcionário, que está treinado para acolher essa vítima.

A promotora também sugere pensar e trabalhar políticas para incentivar o ingresso da mulher ao mercado de trabalho, já que algumas dessas vítimas dependem financeiramente de seus companheiros violentos, além da divulgação de informações para que a mulher perceba que está em um relacionamento abusivo e que pode – e deve – pedir ajuda.

O que os homens podem fazer

Gabriela Manssur também falou a respeito do que os homens podem fazer, sejam eles não-autores dessa violência, podendo, portanto, ajudar a vítima ou mesmo denunciar casos, e até mesmo aqueles que são agentes dessa ação violenta.

“Existem grupos reflexivos para homens de órgãos governamentais e também de ONGs em que é possível buscar ajuda com relação a esse comportamento violento”, explica a promotora, que acrescenta que o número de homens que buscam esses serviços ainda é muito baixo. “Eles se acham no direito de xingar ou bater em uma mulher e até [de praticar] crimes sexuais. Forçar uma relação sexual é estupro, ele deve se conscientizar disso”, pontuou.

Violência psicológica

Também convidada do Canal Livre para discutir o tema, antropóloga Beatriz Accioly lembra que o Brasil é uma sociedade violenta, e que a violência contra a mulher é um problema social, associado a uma série de estereótipos e educações que damos aos cidadãos desde pequenos, que podem moldar comportamentos violentos no futuro.

Além disso, pouco se fala sobre a violência psicológica que a mulher pode sofrer e que pode ser tão traumático quanto um ferimento físico. “O foco é na violência física, mas a gente esquece da violência psicológica e ela acontece o tempo inteiro, desqualificando a mulher e reproduzindo uma sociedade violenta”.

Accioly reforça ainda o quanto a pandemia escancarou esses problemas. “Mostra o quão deficitárias somos na garanta de direitos”, observa. “A pandemia mostra que a casa não é lar. Pede-se que fiquemos em casa, mas isso pode representar um risco para a mulher que vive com o agressor”, pontua a antropóloga. “É uma dupla pandemia”, define.

Luíza Brunet: a violência doméstica é naturalizada no Brasil

Canal Livre também contou com um depoimento da empresária, atriz, ativista e modelo Luíza Brunet, que foi vítima de violência doméstica. “Falar sobre isso é muito triste. O Brasil é o quinto país do mundo onde mais se mata e fere mulheres. E esse crime é naturalizado no Brasil”, lamenta. “Mas a luta é grande para conscientizar as novas gerações”.

Brunet ressalta ainda que a violência doméstica não atinge apenas a vítima, mas a família dessa vítima e até a própria economia do País. “Uma mulher abalada não vai trabalhar. Não podemos permitir que mulheres sigam desamparadas. A sociedade precisa se envolver e mudar essa cultura o mais rápido possível”.