Por Carlos Dias, no Fantástico, em 02 de junho de 2020
Uma rede de 2.300 voluntárias espalhadas pelo Brasil atendeu 706 mulheres vítimas de violência doméstica entre 31 de março a 30 de maio. Os dados são divulgados em exclusividade nesta terça-feira (2).
Ao Fantástico, a promotora Gabriela Manssur explicou que no projeto Justiceiras estão médicas, assistentes sociais, jornalistas, entre outras mulheres, que oferecem ajuda jurídica e psicológica.
Para o atendimento, a vítima manda uma mensagem no número de Whatsapp. Em seguida, ele recebe um link com um formulário, que é encaminhado para as centenas de voluntárias.
“Muitas vezes, essas mulheres não conseguem pedir ajuda, porque não tem como sair de casa e não sabem, não tem conhecimento dos canais de denuncia online, da possibilidade de fazer BO online. Esse preenchimento requer o uso da internet, e há um controle do uso da internet e do aparelho de celular por esse parceiro agressivo e violento”, explica.
Segundo os dados consolidados pelo projeto, das mais de 700 mulheres que pediram ajuda em 23 estados e o Distrito Federal, grande parte das vítimas era da região sudeste.
59% dos pedidos de ajuda são do estado de São Paulo. Dos casos paulistas, 75% são da Grande São Paulo.
Durante o relato, metade das atendidas disse que nunca pediu ajuda a órgãos públicos ou para o sistema de Justiça.
“Há um indicativo de que o horário da noite é o menos propício para as conversas para mais da metade das atendidas. O mesmo se dá com a preferência pelos dias de semana, uma vez que a chance de serem interceptadas pelos agressores é menor”, escreveu Beatriz Accioly Lins, antropóloga e voluntária responsável pela análise dos dados.
Com base nos relatos, 8 em cada 10 atendidas afirmaram terem sofrido violência em casa. Destes casos, 49% são companheiros das vítimas.
“Nos canais de maior acessibilidade nós temos um aumento no número de pedidos de ajuda, casos graves, mulheres que estão vivendo violência naquele momento, em situações de flagrância e de extremo risco. Requer atuação imediata”, comenta Manssur.
“Vivem em relações por medo de acessos de raiva de seus companheiros. Mais recentemente, recebemos atendidas que relatam que seus agressores tomaram posse do auxílio emergencial concedido pelo governo sem sua autorização”, detalhou Beatriz.
Para pedir ajuda durante o isolamento social, a vítima deve entrar em contato pelo número (11) 99639-1212.
Aumento de feminicídio
No domingo, o Fantástico mostrou que em março e abril, o número de feminicídios cresceu 22,2% em relação ao mesmo período de 2019.
O estudo foi feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pedido do Banco Mundial. Segundo os dados, o número de feminicídios no país cresceu 22,2% em março e abril – durante a pandemia do novo coronavírus -, em 12 estados brasileiros.