O Instituto Nelson Wilians e a Business and Professional Women (BPW) São Paulo realizaram, na quarta-feira (14), o segundo webinar sobre violência contra a mulher. Neste, o tema central foi: Do Reconhecimento à Ação. Para enriquecer o diálogo, foram convidadas a Marcia Victoriano, socióloga e fundadora da ONG Nova Mulher; Flavia Melissa, presidente e fundadora do Instituto Elos que Empoderam; Luísa do Amaral Souza, mulher trans, jornalista e ativista; e a escritora Susete Pasa. Na mediação, Anne Wilians, presidente do INW e co-idealizadora do Projeto Justiceiras, e Claudia Pirani, empresária e presidente da BPW-São Paulo.
Cláudia comenta a importância de eventos que tragam entendimento reconhecimento para o público. “Temos que ser atuantes e solidários com a questão da violência contra a mulher, porque ela está presente no nosso dia-a-dia. Com o tema de hoje, poderemos entender como a desigualdade social afeta nessa questão e como podemos ser atuantes nesse combate”.
Anne Wilians reforça que a sociedade hoje já reconhece a presença da violência, no entanto há necessidade de atitudes combativas, especialmente no período da Pandemia, quando o número de notificações de violência vem aumentando. “Esses números expressam apenas uma parte do problema. Ainda existe o silêncio por falta do reconhecimento da violência, vergonha, medo, julgamento social. O contexto em que a mulher está inserida muitas vezes leva a omitir acontecimentos e reprimir vários sentimentos”.
A escritora Susete Pasa compartilha seu histórico de abuso conjugal, também relatado no livro “Abusada – Padre, eu Pequei”. Conheceu seu abusador aos 16 anos e se casou aos 19. Passou a sofrer abuso psicológico, mas não encerrava o relacionamento por saber das pressões sociais que viriam. “Quando eu comecei a entrar em depressão e tentei suicídio, passei por uma psiquiatra e ela me recomendou terapia. Com o acompanhamento, passei a utilizar o recurso da escrita, percebi uma catarse emocional e que eu poderia ajudar outras mulheres. Consegui transformar toda a dor em superação para conseguir ajudar outras mulheres”. Ela lembra ainda que amigas alertavam sobre o tipo de relacionamento que vivia, mas ela não conseguia entender, tendo sido a terapia fundamental para percepção do ciclo. Depois de 31 anos, conseguiu encerrar o relacionamento
A socióloga Márcia Vitoriano acredita numa desconstrução social e histórica com relação ao patriarcado, trazendo como exemplo o movimento das Sufragistas, que trouxe tantas transformações sociais. “A desigualdade entre homens e mulheres é a base da violência contra a mulher. Historicamente, ela foi preparada para a esfera privada, para cuidar da casa e dos filhos, enquanto os homens para a esfera pública do trabalho e da política. E a sociedade foi erguida dessa forma. Mas à medida em que vai-se questionando estes padrões que foram naturalizados para as mulheres, cria-se também um conflito, ou no mínimo um incômodo”.
Luisa Sousa, ativista trans, compartilha dados sobre a violência trans no Brasil: entre 2008 e 2018, 40% de todo assassinato de mulheres trans foi no Brasil; a expectativa de vida dela é de 35 anos e 90% delas estão na prostituição. Ela também menciona as principais barreiras socioculturais ainda existentes para mulheres trans: “Quando começamos a fazer a transição, já sofremos algum nível de violência em casa. Nas ruas e escolas, existe a ridicularização e o preconceito, sendo que muitos professores não estão preparados para lidar com isso. Na empregabilidade, também temos fronteiras. Em geral, as empresas não estão preparadas para acolher uma pessoa trans, o que leva muitas delas para a prostituição. Nas instituições sociais, há dificuldades em acessar o sistema de saúde, já que muitos profissionais também não estão preparados. A alteração do nome social é muito importante para o processo de dignidade, e esse acesso foi facilitado desde 2018, embora ainda seja muito caro para algumas realidades financeiras”.
Para finalizar a roda de conversa, Flavia Melissa compartilha sua visão sobre a violência da mulher e a abordagem educativa que o Instituto Elos que Empoderam oferece. “O homem não foi educado sobre como tratar essa mulher do século 21, que manda no seu corpo, tem o próprio dinheiro. E a mulher não foi preparada para ter um olhar humanizado para outras mulheres, ela foi ensinada a competir. A violência doméstica na criança se propaga a partir da mulher que o educou. Então trazer essa consciência e resposta à ação por meio de acolhimento e rodas de conversa tem sido muito enriquecedor”.
O INW e a BPW-São Paulo agradecem a disponibilidade das convidadas, que enriqueceram o encontro com a relevância dos conteúdos abordados.