Transformando meninos em agentes de mudança: educação em Direitos Humanos

O Dia Internacional das Mulheres é uma ocasião importante para reconhecer e celebrar as conquistas das mulheres ao longo da história, bem como para destacar as lutas contínuas pela igualdade de gênero em todo o mundo.

Embora seja um dia centrado nas mulheres, os homens também têm um papel significativo a desempenhar na promoção da igualdade de gênero e na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Neste momento, objeto deste artigo, é particularizar o papel dos homens como caminho para o combate da violência de gênero, bem como apresentar maneiras educacionais de se alcançar esse objetivo.

Dessa maneira, é imprescindível aos homens manter permanentemente a voz sobre a igualdade de gênero ao lado das mulheres, porque elas não vão reescrever sozinhas as normas naturalizadas de desigualdade. É um lugar de atenção e combate aos privilégios do patriarcado e de todas as marcas indevidas da masculinidade e do machismo.

Importante salientar que o patriarcado é um sistema social em que os homens têm poder e privilégios significativos em comparação com as mulheres. Sendo assim, esse sistema influencia diferentes aspectos da sociedade, incluindo política, economia, cultura e relações pessoais.

Exemplos da desigualdade de gênero

Existem diversos dados e estudos que comprovam a influência do patriarcado em diferentes aspectos da sociedade. Aqui estão alguns exemplos:

  1. Política:
  • Baixa representação de mulheres em cargos políticos de poder, tanto em níveis legislativos quanto executivos.
  • Disparidade de salários entre homens e mulheres em cargos políticos similares.
  1. Economia:
  • Diferença salarial de gênero, onde as mulheres geralmente ganham menos do que os homens pelo mesmo trabalho ou trabalho de valor comparável.
  • Menor acesso das mulheres a oportunidades de emprego, especialmente em setores de alta remuneração ou cargos de liderança.
  • Maior incidência de trabalho não remunerado, como tarefas domésticas e cuidado de familiares, que recai desproporcionalmente sobre as mulheres.
  1. Cultura:
  • Representações estereotipadas de gênero nos meios de comunicação, literatura, cinema e outras formas de arte, que frequentemente reforçam papéis e normas de gênero tradicionais.
  • Expectativas de gênero que influenciam as escolhas educacionais e profissionais das pessoas, limitando suas opções com base no sexo.
  • Normas sociais que reforçam a ideia de masculinidade dominante e feminilidade submissa.  

Ajudar meninos a reconhecerem o patriarcado é extremamente importante!

Aqui estão algumas maneiras pelas quais os meninos podem contribuir:

  • Educação e conscientização: os meninos podem educar a si mesmos e conscientizar os outros sobre a natureza prejudicial da violência de gênero. Isso inclui aprender sobre consentimento, respeito mútuo e os impactos devastadores da violência contra as mulheres. Esse aprendizado pode ser adquirido por intermédio de leituras, filmes e organizações participando de workshops, palestras e programas educacionais que abordem essa questão.
  • Desafiar comportamentos prejudiciais: os meninos podem desafiar ativamente comportamentos prejudiciais e atitudes machistas em seu próprio círculo social. Isso pode incluir intervir quando testemunham ou ouvem falar de situações de assédio, bullying ou abuso e recursar-se a participar de comportamentos que objetificam ou desrespeitem as mulheres.
  • Promover relações respeitosas: promover relações saudáveis e respeitosas com as meninas, baseadas em comunicação aberta, confiança e igualdade. Ou seja, praticar o respeito mútuo, ouvir atentamente as preocupações das meninas e se esforçar para entender suas experiências e perspectivas.
  • Refletir e desafiar os próprios privilégios: Reflexão sobre seus próprios privilégios (na esfera pública, de mobilidade, de divisão de trabalho, de sexualidade) e como eles podem contribuir para a perpetuação da violência de gênero. Isso pode envolver examinar as maneiras pelas quais o patriarcado beneficia os homens em detrimento das mulheres e estar disposto a reconhecer e confrontar esses privilégios;

Como conversar os meninos sobre violência contra meninas e mulheres

Abordar o tema da violência contra as mulheres em uma roda de conversa com meninos na sala de aula é uma maneira importante de promover a conscientização e o engajamento dos alunos na prevenção da violência de gênero. Aqui estão algumas estratégias educacionais que os professores e educadores de organizações sociais podem utilizar em seus métodos didáticos:

  1. Contextualização do problema: comece explicando o que é violência contra as mulheres, destacando diferentes formas de violência, como física, emocional, sexual e econômica. Forneça exemplos e estatísticas relevantes para mostrar a extensão do problema.
  2. Discussão sobre papéis de gênero: explore as expectativas de gênero e os estereótipos que contribuem para a violência contra as mulheres. Incentive os alunos a refletirem sobre como essas expectativas afetam suas próprias atitudes e comportamentos em relação às mulheres.
  3. Promoção da empatia: ajude os alunos a desenvolverem empatia ao discutir os impactos da violência contra as mulheres em nível individual, familiar e comunitário. Incentive-os a pensar sobre como se sentiriam se estivessem na posição das vítimas.
  4. Desconstrução de mitos e justificativas: aborde mitos comuns sobre violência contra as mulheres e desafie essas crenças errôneas. Discuta como esses mitos perpetuam a violência e reforçam a cultura de tolerância à agressão.
  5. Exploração de estratégias de prevenção: envolva os alunos na identificação de estratégias para prevenir a violência contra as mulheres e em suas próprias vidas e comunidades. Isso pode incluir a promoção do respeito mútuo, da comunicação não violenta e da intervenção em situações de abuso.
  6. Encorajamento à responsabilidade pessoal e coletiva: reforce a importância de os meninos assumirem responsabilidade por suas próprias ações e de serem aliados na luta contra a violência de gênero. Destaque o papel que cada um pode desempenhar na criação de uma cultura de respeito e igualdade.
  7. Fornecimento de recursos e suporte: forneça informações sobre recursos disponíveis para vítimas de violência e incentive os alunos a buscar ajuda caso precisem ou conheçam alguém que precise.
  8. Promoção de diálogo contínuo: estabeleça um ambiente seguro e aberto para discussão, onde os alunos se sintam confortáveis para compartilhar suas opiniões, dúvidas e experiências. Incentive a continuidade do diálogo sobre questões de gênero ao longo da discussão.

Essas estratégias educacionais podem ajudar os educadores e agentes de transformação social a abordarem o tema da violência contra as mulheres com efetividade, capacitando os educandos/cidadãos da sociedade a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades.

 Apresentamos algumas sugestões de leituras, livros literários e teóricos, que podem contribuir para uma maior compreensão das masculinidades e promover a mitigação da violência de gênero:

Livro: “Em Os meninos são a cura do machismo”, Nana Queiroz propõe que uma educação feminista amorosa é a vacina contra nossa pandemia patriarcal.  Depois de trabalhar ao longo de uma década combatendo o machismo, com foco nas mulheres, Nana Queiroz percebeu que, de certa forma, era como se estivesse secando gelo. As mulheres eram, sem dúvida, o remédio mais efetivo que conhecia contra o machismo, com seu grito e sua coragem para quebrar silêncios e conquistar direitos. Mas eram isso: antibiótico para uma infecção generalizada que resistia em retroceder. Eram o grito desesperado de um corpo social na UTI. Como mãe de um homenzinho, viu-se então diante da oportunidade de trabalhar na erradicação desse mal. Os meninos podem ser a cura do machismo. Uma educação feminista amorosa é a vacina contra nossa pandemia patriarcal. Porque ninguém nasce insensível, ninguém nasce agressor, ninguém nasce estuprador — isso é, na verdade, o que o machismo quer que a gente pense sobre os homens. Que existe alguma natureza perversa que os rebaixa e os leva a agir irracionalmente. Nana escolheu acreditar nos meninos: eles mudarão tudo — desde que a gente deixe de treiná-los para oprimir. Os meninos são a cura do machismo ensina como cultivarmos um antiexército de homens decentes que se atrevam a mudar o mundo.

LivroJustiça para Todas: O que toda mulher deve saber para garantir seus direitos”: Fayda Belo, advogada renomada, elucida o histórico de discriminação contra as mulheres, bem como cada crime do qual costumeiramente são vítimas, apontando o caminho da denúncia e de redes gratuitas de apoio e amparo para vítimas de violência. Portanto, por tratar-se de um manual didático, trata-se de uma ótima maneira de informação para homens que desejam apoiar meninas na luta pelo fim da discriminação de gênero.

 Documentário: Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero, filme produzido pelo O Boticário, propõe uma mudança de comportamento. A própria ONU acredita que somos todos e todas reprodutores e vítimas do machismo. E isso porque vivemos numa sociedade sexista. É natural refletirmos esse aspecto. “Ninguém está imune a isso”, diz a ONU Mulheres.

 Filme “Sentindo na pele”: À noite, um homem percorre as ruas de uma cidade. Ele é assediado por todos os homens ao longo do trajeto que percorre até uma parada de ônibus. Ao entrar no coletivo, ele volta à identidade de uma mulher. Com este argumento, o filme “Sentindo na pele”, pretende chamar a atenção dos homens brasileiros para a violência que as mulheres vivenciam nas ruas. Busca, ainda, engajá-los no Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedade pela Igualdade de Gênero, lançado pela ONU Mulheres em 2014.

 Livro “Masculinidades, Violência e Poder”: Marcos Nascimento examina as relações entre a masculinidade, violência e poder na sociedade brasileira, destacando como homens podem se engajar na prevenção e no combate à violência de gênero. 

Cultura da legalidade, Educação e Direito para alcançar Justiça Social

A reflexão contínua sobre os direitos humanos é fundamental para preservar as conquistas alcançadas e buscar avanços adicionais. É importante reconhecer que os direitos humanos são o resultado de lutas sociais persistentes e estão sujeitos a desafios e retrocessos. No entanto, é através do compromisso e da ação que a sociedade pode garantir um ambiente mais justo e igualitário para todos.

O Instituto Nelson Wilians desempenha um papel significativo nesse cenário, implementando projetos voltados para a promoção da igualdade social, incluindo a igualdade de gênero. Por meio de programas educacionais e iniciativas jurídicas, o Instituto busca democratizar oportunidades no Brasil, capacitando indivíduos e comunidades para que possam alcançar seu pleno potencial.

Apesar dos desafios atuais, é crucial a manutenção do compromisso de todos com os direitos humanos e a igualdade social.

Envolver todos nesta causa, seja apoiando organizações como o Instituto Nelson Wilians, seja promovendo a conscientização e a ação em suas próprias comunidades. É na união de todos que há a construção de um futuro em que todos sejam tratados com dignidade e respeito, independentemente de sua origem ou identidade.