Temos muito exemplos que demonstram que estamos caminhando para um futuro com mais abundância de oportunidades e de acesso aos recursos pelas populações.
As ondas de progresso tecnológico, o aumento da expectativa de vida das pessoas, a redução da mortalidade infantil, a expansão de novas fontes de energia, a maior preocupação com a preservação dos recursos naturais, entre outros, são exemplos que mostram o quanto já evoluímos e o imenso potencial de desenvolvimento, que vem ocorrendo, de forma cada vez mais conectada. Entretanto, ainda existem muitos desafios a serem superados.
Nesse mundo ultraconectado, até mesmo os problemas sociais estão interligados, e, um dos principais problemas atuais é a cultura de violência em que estamos inseridos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) em seu Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, define violência como: “O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.” (OMS, 2022).
Convivemos diariamente com diversas dimensões de violências: pobreza, racismo, discriminação, militarismo, guerras, poluição, tiroteios em massa, armamento das populações, xenofobia, entre outros. Estas violências já estão naturalizadas no nosso cotidiano, na nossa vida doméstica, nos programas de TV, na Internet e nas ruas. Essa naturalização faz com que muitas pesquisas apontem a construção da chamada cultura da violência. Segundo Luiza Bairros, doutora em Sociologia pela Universidade de Michigan, não é a violência que cria a cultura, mas é a cultura que define o que é violência. É a cultura de uma sociedade que irá aceitar violências em maior ou menor grau a depender do ponto em que nós estejamos enquanto sociedade humana, do ponto de compreensão do que seja a prática violenta ou não.
Sistemas violentos não são construídos da noite para o dia. Cada um de nós desempenha um papel fundamental na sua construção e manutenção, por vezes sem perceber.
É por isso que o trabalho da não-violência pertence a cada um de nós. E exige um processo de autorreflexão, de libertação de velhos hábitos que estão amplamente inseridos nas nossas vidas cotidianas.
Mas há esperança. O desejo por um mundo não violento é muito poderoso.
Imagine um mundo onde todos tenham iguais oportunidades, tenham o suficiente para viver, onde a diversidade seja afirmada e celebrada, onde as escolas sejam inovadoras e inclusivas, onde construamos a paz social, onde o meio ambiente seja limpo e saudável. Em uma cultura de não-violência, os sistemas, estruturas e instituições produzem uma realidade apta a continuar a construir, nutrir e restaurar de forma sustentável e com o envolvimento de toda a sociedade.
É para a construção deste mundo que as Organizações da Sociedade Civil, como é o caso do Instituto Nelson Wilians – INW, estão trabalhando para implementar uma agenda de promoção da cultura da não-violência.
A cultura da não-violência tem crescido exponencialmente, e, num mundo ultra conectado, a tendência é que cada vez mais pessoas despertem para o fato de que viver impregnadas de violência as fazem extremamente vulneráveis, manipuláveis e impacta diretamente em seu crescimento individual e coletivo.
A não-violência não é simplesmente a falta de violência visível nas nossas vidas. Algumas das piores formas de violência são quase invisíveis e facilmente ignoradas, alguns exemplos são: sexismo, racismo, homofobia, discurso de ódio, fake news.
Portanto, atuar em busca da não-violência é trabalhar, continuamente, para abrir esta discussão na nossa sociedade e revelar que tais sistemas são os responsáveis por muitas das nossas mazelas sociais e perpetuação das desigualdades.
A luta não-violenta constrói a confiança entre indivíduos, valoriza a comunicação entre os diversos grupos, mesmo quando estes se encontram em disputa, e constrói um caminho para um futuro com mais confiança e prosperidade.
Cultivar a não-violência é uma jornada para a vida. Uma jornada de compromisso com os seus entes queridos e com o seu grupo social.
Mas como começar essa jornada?
Aqui separei algumas sugestões de pequenas mudanças que geram impacto positivo na construção de uma cultura de não-violência.
- A linguagem e a comunicação podem ser um ponto inicial de mudança. As palavras importam. Pense nas palavras que você utiliza na sua vida diária e busque ter uma comunicação não-violenta.
- Celebre a bondade, empatia e confiança. Privilegie influencers, perfis e páginas nas redes sociais que tragam conteúdos sobre bem comum de qualidade e informação correta e direcionada.
- Identificar os privilégios que nos são concedidos e reconhecer os sistemas que estão por trás desses privilégios também é um ponto relevante. Questões como racismo e o sexismo precisam ser combatidos.
- Participe de iniciativas não violentas. Há muitas instituições que estão comprometidas em parar a violência e trazer a paz.
- Cultivar novas habilidades para solucionar conflitos por meio de medidas pacíficas também é fundamental. O conflito surge em primeiro lugar porque ambos os lados mantêm sua posição, e para solucioná-lo é necessário ter uma percepção mais ampla. A ruptura da comunicação é uma das principais causas de qualquer conflito e, portanto, para solucionar, são importantes o diálogo e a negociação inalterada.
Como citado no início, estamos próximos de viver numa era de abundância de possibilidades. Os indivíduos têm se tornado mais capazes para assumir, de fato, a responsabilidade pela solução dos problemas e dos grandes desafios da nossa realidade.
Para que possamos prosseguir neste caminho é preciso prestar atenção nas coisas boas e fomentá-las. É uma profunda mudança de mindset e um sério compromisso com atitudes positivas.
A cultura da não-violência precisa começar em cada um de nós, a partir das nossas escolhas diárias. Precisamos adquirir consciência e consistência, sempre buscando promover em nossas vidas o respeito à dignidade de cada pessoa, a eliminação da discriminação, preconceito, violência, injustiça e opressão social. Esse é o início do caminho para a construção de uma cultura de paz.
Que no mês de outubro, mês em que comemoramos o Dia Internacional da Não-Violência, e em todo o ano, possamos refletir sobre a temática e começarmos a sermos agentes da promoção de uma cultura de não-violência.