Por Mariana Minghini. Está cursando o quinto semestre do curso de Direito, na Universidade São Judas Tadeu, é membro do Projeto Fazendo Vencer do Instituto Nelson Wilians. Atuou como Auxiliar Administrativa no INW e agora é estagiária no Nelson Wilians Advogados.
O Dia Internacional da Mulher tem como fundamento representar e potencializar as diversas lutas contra as desigualdades, violências, opressões e discriminações que o sexo feminino vem enfrentando ao longo dos anos. A luta é constante, pois ainda é preciso pontuar e conscientizar toda a sociedade, no que se refere a igualdade de oportunidades para todos os gêneros e promover o devido respeito para que nós, mulheres, possamos realizar sem nenhum prejulgamento tudo o que realmente queremos fazer.
A data foi reconhecida oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 8 de março de 1975. É muito comum relacionar essa data a um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, ocorrido no dia 25 de março de 1911, no qual os proprietários da fábrica trancavam seus funcionários no ambiente enquanto trabalhavam, com o intuito de conter os motins e greves. Quando a fábrica pegou fogo, as portas estavam trancadas, vitimizando 146 pessoas, dentre elas, 125 mulheres. Esse foi um acontecimento marcante, com grande repercussão na época e pouco lembrado nos dias de hoje. Assim, o que vale ressaltar ao lembrar dessa tragédia são as centenas de mulheres que perderam suas vidas, e ainda hoje perdem por diversos motivos. Portanto, essa data nos remete, entre outros motivos, para a força do engajamento feminino e pela luta de causa que, por décadas, buscam reconhecimento e dignidade.
Faço menção a essa data e aos movimentos que nos antecederam, pois não se pode apagar a influência das lutas e protestos organizados pelas mulheres que pediam pela paz, igualdade econômica e política. É essencial conhecermos a história para entendermos a luta feminina, que desde o século XIV busca seu lugar de fala e igualdade de condições na sociedade. Embora existam diversos marcos importantes para a garantia dos direitos das mulheres, como o direito de acesso às faculdades (1879) e o direito ao voto (1932), devemos ressaltar a força das mulheres que lutaram para sobreviver à dominação imposta na construção do Estado Moderno. Com este e com os homens, essas cidadãs assumiram a responsabilidades de encarregar-se da mão-de-obra nas fábricas, para garantir o sustento da família e, mesmo oprimidas, já buscavam quebrar o tabu de que determinadas tarefas eram de função masculina. Com isso, percebemos que a mulher, apesar de se impor e tomar a frente de diversas lutas como aponta nossa história, era a todo momento considerada incapaz, e, por isso, subjugada.
Hoje, ao contar das nossas lutas e conquistas, fortalecidas e empoderadas, não podemos perder o norte de afirmação do nosso lugar de fala e do desejo de rompimento de todos os rótulos que nos impuseram desde o nascimento. Queremos também extinguir com todos os indícios de uma sociedade ainda sustentada pelo sistema patriarcal, que nos vê com preconceito apenas pelo fato de sermos mulheres, que coloca homens em situações de poder, que manifesta a misoginia, que escancara as situações de feminicídio e de violência sofrida todos os dias dentro dos próprios lares, e que nos julga com desprezo e de modo subversivo por não nos contentarmos com os espaços que nos foram dados (Ainda bem!). Assim, sabedoras do nosso valor, legitimamos nosso reconhecimento e respeito para construirmos a tão almejada igualdade e equidade de participação de ambos os gêneros, e mitigar de vez com os cenários de desigualdades.
Então, março é não um mês romântico, mas é um mês político, pois remete às lutas engendradas pelas mulheres, às conquistas de direitos e pela consciência do lugar que ocupamos na sociedade. A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada em 2019, comprova que o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens, então por que as divisões por gêneros não acompanham essa proporcionalidade? De acordo com os indicadores sociais do Instituto Brasileiro (SIS/2015), mesmo que tenhamos ocupações significativas de mulheres nos espaços políticos, culturais e econômicos, ainda temos nossos direitos subjugados. Com a pandemia, ficou mais fácil de observar alguns abismos sociais, por exemplo, o de mulheres que passaram de jornada dupla para a jornada continua, ou seja, além de estar em teletrabalho, administram a casa, os filhos e as demandas diárias, mas o quadro se agrava quando estão desempregadas, conforme ressalta a professora Adriana Karam, Presidente do Grupo Opet.
Diante de todos esses pressupostos e desigualdades, não será um mês ou um único dia que nos tornará importantes, mas todas as dificuldades que enfrentamos para chegar até aqui. É sobre nossa história e a vivência de cada mulher anônima que enfrentou e enfrenta lutas diárias contra o patriarcado e os diversos tipos de violência. É sobre as muitas cidadãs que fomentam essa luta, que promovem a solidariedade, que compartilham o sentimento de empatia e união, que se empoderam e vivem o seu poder de escolha.
Portanto, a luta feminina é um movimento coletivo protagonizado pelas mulheres, do qual todos devem e podem participar. E como mulher e jovem, ressalto que precisamos educar as meninas, historicizar essas guerras por igualdade e equidade de gênero e classe social, sem perder nossas singularidades, raízes, pois, como diz Amanda Oliveira: “quando se educa uma menina se educa uma nação”. Já é hora de reescrevermos, juntos, uma história que constantemente é silenciada. E ainda como ressalta Virginia Woolf: “pela maior parte da história, anônimo foi uma mulher”, que não sejamos mais.