Por Maria Fernanda Maluf
Cidadania climática não é um novo rótulo para o meio ambiente. É uma forma de entender que temas como ondas de calor, enchentes, qualidade do ar, cobertura vegetal e saneamento afetam diretamente a vida nas cidades. Esses fenômenos resultam de escolhas públicas: leis, planos, orçamentos e políticas que definem como o território funciona. Falar sobre clima é falar sobre vida pública, política e direitos
Letramento cívico e responsabilidade compartilhada
Formar cidadania climática significa desenvolver capacidades para entender como o Estado decide, acessar informações confiáveis, ler dados e notícias com senso crítico e saber quem decide o que — município, estado ou União. É letramento cívico aplicado ao clima, conectando problemas concretos a instrumentos públicos que podem preveni-los, mitigá-los ou repará-los. Mais do que um conceito, trata-se de um exercício contínuo de cidadania ativa e de corresponsabilidade pelo território e pelo futuro.
A Constituição Federal, no artigo 225, assegura o direito a um meio ambiente equilibrado e estabelece deveres ao poder público e à coletividade. Esse dispositivo dá base jurídica ao que chamamos de direito ao futuro: planejamento intergeracional, prevenção de riscos e prioridade a políticas que protejam as condições de vida de hoje e de amanhã. É um compromisso constitucional com sustentabilidade e justiça entre gerações.
COP30 e o papel da educação na emergência climática
A realização da COP30 no Brasil convida escolas, organizações sociais e governos locais a refletirem sobre a educação diante da emergência climática. As conferências internacionais não substituem políticas públicas, mas ajudam a organizar o repertório de ação em mitigação, adaptação, financiamento e perdas e danos. Ao aproximar esses temas da educação, a cidadania climática evidencia que decidir localmente é assumir responsabilidades globais.
A contribuição de Ailton Krenak amplia essa reflexão ao lembrar que desenvolvimento e gestão pública precisam considerar a relação com a natureza, os territórios e as comunidades. Sua visão inspira uma pedagogia do cuidado e da coexistência, em que o progresso se mede pela capacidade de proteger e regenerar, e não de exaurir. O convite para “adiar o fim do mundo” sugere abertura para outros modos de vida, nos quais educação e meio ambiente caminham juntos.
Formação cidadã, território e participação juvenil
A educação tem papel estruturante nesse processo. Formar jovens em cidadania climática é articular conhecimento jurídico, social e ambiental com experiências reais de território: compreender o ciclo orçamentário, reconhecer instrumentos de transparência, interpretar indicadores e participar de espaços institucionais com respeito e evidências.
Nesse sentido, o Instituto Nelson Wilians, por meio do projeto Compartilhando Direito, oferece o Módulo 12 – Questões Climáticas e Cidadania, que integra leituras, debates e atividades comunitárias para que estudantes compreendam seu papel como sujeitos de direitos. Ao tratar de racismo climático, Amazônia e justiça ambiental, o módulo aproxima o tema do cotidiano das escolas e organizações sociais, transformando conhecimento em pertencimento.
Cidadania climática é a capacidade de compreender, deliberar e dialogar sobre escolhas coletivas. Não se trata de slogans, mas de uma prática contínua de responsabilidade compartilhada e educação democrática. O direito ao futuro começa nas decisões que tomamos hoje nas salas de aula, nos territórios e nas instituições — e no compromisso de abrir caminhos para outros mundos possíveis, onde sustentabilidade e cidadania são indissociáveis.
Baixe gratuitamente o Módulo 12 – Questões Climáticas e Cidadania e leve essa reflexão para sua escola ou organização social. Educar para o clima é educar para a vida pública.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 nov.2025.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Objetivos de desenvolvimento sustentável. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 11 nov. 2025.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
ISER – Instituto de Estudos da Religião. O que é racismo climático? Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: https://iser.org.br/noticia/o-que-e-racismo-climatico/
INSTITUTO NELSON WILIANS. Compartilhando Direitos. São Paulo: INW, 2025.
