Juventudes produtivas e os desafios da inclusão
Falar sobre juventude no Brasil é falar sobre futuro — mas também sobre urgência. Os jovens representam uma parte significativa da população brasileira e enfrentam, com frequência, desigualdades estruturais.
Eles convivem com evasão escolar, desemprego, violência urbana e falta de acesso a oportunidades reais de desenvolvimento. Quando construído de forma digna e inclusiva, o trabalho pode transformar a realidade desses jovens, fortalecendo sua cidadania e seu senso de pertencimento.
Para muitos, o primeiro contato com o mundo do trabalho ocorre de maneira precoce, informal e sem garantias. A ausência de políticas públicas eficazes mantém ciclos de pobreza, exclusão e frustração. No entanto, muitos jovens demonstram enorme capacidade de resistência, criatividade e reinvenção.
Nesse cenário, surge a ideia de juventudes produtivas — jovens que usam o trabalho, a cultura, a coletividade e a educação para transformar suas trajetórias.
Diversidade de trajetórias e contextos
Não podemos tratar a juventude como um grupo homogêneo. Fatores como raça, gênero, classe, território e identidade moldam diferentes vivências. Jovens negros, periféricos, LGBTQIA+ e indígenas enfrentam realidades distintas da juventude branca e de classe média.
Por isso, ações voltadas a esse público precisam respeitar sua diversidade e considerar os contextos socioculturais em que vivem. Dessa forma, é possível promover iniciativas mais eficazes e justas.
Potencialize: formação para o protagonismo juvenil
Para desenvolver juventudes produtivas com autonomia, é essencial oferecer formação e inserção qualificada no mundo do trabalho. Com esse objetivo, o Instituto Nelson Wilians criou o projeto Potencialize — uma tecnologia social voltada à capacitação de juventudes e mulheres.
A trilha formativa, composta por sete módulos, apresenta conteúdos sobre negociação, inteligência emocional, mercado de trabalho e direitos fundamentais. Ao aliar teoria e prática, o Potencialize fortalece o protagonismo juvenil em territórios vulnerabilizados.
Na edição piloto, realizada em Campo Grande (MS), o projeto capacitou jovens e ajudou 35% deles a ingressarem no mercado de trabalho. Por meio do Edital INW, o Instituto forma parcerias com organizações sociais e amplia o alcance dessa metodologia pelo Brasil.
Além disso, o Potencialize valoriza a escuta ativa e a construção coletiva do conhecimento.
Trabalho, identidade e protagonismo
O Potencialize compreende o trabalho como espaço de construção de identidade e autonomia. A iniciativa reconhece e valoriza formas diversas de atuação, como empreendedorismo, coletivos culturais, economia criativa e projetos autônomos.
Muitos jovens atuam com música, moda, dança, audiovisual ou gastronomia. Essas atividades geram renda e promovem o protagonismo, ao mesmo tempo em que reforçam suas identidades.
De acordo com Pierre Bourdieu, o reconhecimento social — o chamado capital simbólico — é essencial para que os indivíduos se sintam pertencentes à coletividade. Quando valorizamos os talentos dos jovens, fortalecemos seus vínculos com a sociedade. Ou seja, o reconhecimento é mais do que um símbolo — ele é um fator estruturante da inclusão.
Juventudes como agentes de transformação
A metodologia também valoriza a articulação comunitária. Os jovens não apenas participam: eles lideram, mobilizam redes e influenciam seus territórios. Ao formar lideranças locais, iniciativas como o Potencialize contribuem para o fortalecimento do tecido social e a construção de soluções coletivas, enraizadas na realidade de cada comunidade.
Inspirado na pedagogia de Paulo Freire, o Potencialize adota uma abordagem baseada no diálogo e na valorização dos saberes populares. Assim, ao tratar os jovens como coautores da própria formação, o projeto estimula sua autonomia e senso crítico.
Caminhos possíveis e responsabilidades compartilhadas
Quando estruturado com dignidade, o trabalho ajuda os jovens a construir um projeto de vida. Jovens que têm acesso a oportunidades reais conseguem sonhar, planejar e agir com mais segurança. Por outro lado, a falta de perspectivas tende a gerar frustração e afastamento social.
Portanto, investir em juventudes produtivas vai além de uma estratégia econômica — é uma decisão ética, social e coletiva.
Para ampliar o impacto dessas ações, governos devem implementar políticas públicas voltadas à educação, trabalho e cultura. Empresas precisam assumir compromissos reais com a inclusão. E organizações da sociedade civil, como o Instituto Nelson Wilians, devem continuar promovendo transformação nos territórios.
Concluímos, portanto, que o trabalho pode e deve ser um caminho para que os jovens construam pertencimento, cidadania e autonomia. Mas isso só será possível se as oportunidades forem reais, acessíveis e respeitosas com a diversidade de trajetórias juvenis.
Valorizar as juventudes é valorizar o futuro do Brasil — e isso exige, acima de tudo, escuta, compromisso e ação.
