O INW Conecta chega ao seu 4º Encontro, desta vez dialogando sobre o tema “Empoderamento Feminino: Lugar de mulher é onde ela quiser!”, expressão alcunhada pela Dra. Gabriela Manssur, Promotora de Justiça de São Paulo e Presidente do Instituto Justiça de Saia.
Para a conversa, que contou com a mediação da Dra. Anne Wilians, foram convidadas a Delegada de Polícia de São Paulo e Pesquisadora, Renata Cruppi, a Assistente Social e Coordenadora do Programa Bem Querer Mulher de São Paulo, Joseane Bernardes, a Publicitária, Pedagoga e Gestora da Associação Afago São Paulo, Ana Paula Dias, e também Rachel Maia, CEO da Lacoste Brasil e fundadora do Projeto Capacita-me.
Delegada Renata conta suas experiências na luta por equidade
Dra. Anne lembra que, mesmo a maioria da população sendo feminina, ainda existe uma luta por direitos e equidade. Então, a Delegada Renata explica o conceito de equidade: “Muitas pessoas acreditam que é simplesmente tratar homens e mulheres de forma igual, mas não é! O diferencial da equidade é que ela respeita as desigualdades, como nas provas físicas do concurso público, em que são exigidas uma quantidade de flexões de braço diferentes para homens e mulheres, por exemplo. O resultado final traz uma igualdade. A equidade é um mecanismo que faz o balanço para que o ponto de partida seja justo para todos”.
Renata atua há 8 anos na Delegacia da Mulher, e quando questionada sobre a violência de gênero, ela conta que é possível perceber a dificuldade que a mulher tem em pedir ajuda, ainda devido às questões patriarcais. “A Delegacia da Mulher oferece um atendimento diferenciado, com acolhimento adequado, porque quando uma mulher se vê em situação de violência, ela pensa primeiro no filho, no marido sendo trabalhador, então sua dignidade acaba ficando de lado em prioridade aos demais. Por isso a Delegacia da Mulher exerce também este papel de rede de proteção, enfrentamento e fortalecimento das mulheres.”
A Delegada lembra que a Constituição Federal afirma que homens e mulheres são iguais perante a lei. E isso é o resultado de muitas lutas de mulheres que vieram antes pelo reconhecimento deste espaço. Ela conta que passou situações de preconceito, em que homens se recusaram a ser atendidos por ela ser mulher, e pedindo pra que chamasse um delegado. “Nós não vivemos mais o tempo em que a mulher só vai ficar dentro de casa. Tudo bem se elas optarem por isso, mas muitas não queremos, e precisamos que a sociedade não nos olhe mais como frágeis.”
Ela alerta sobre a ausência de sororidade entre mulheres, e percebe que ainda há mulher criticando a outra. “Nós recebemos essa educação de sermos concorrentes, mas somos parceiras e devemos mudar nosso comportamento, para que uma ajude a outra”. A Delegada também lembra que a mulher sabe muito sobre o universo política, e votar nelas é uma forma de garantir que políticas públicas sejam efetivas para mulheres. “Eu senti o preconceito por ser mulher, inicialmente nos estudos, quando eu não pude estudar na mesma escola que meu irmão, e também na graduação sendo desencorajada por seus professores”. E também percebeu essa separação no mercado de trabalho, onde muitas mulheres estão em cargos de subordinação.
Renata conta que, filha de pais humildes, também teve muitas dificuldades até chegar onde está. “Eu nunca tive muitas oportunidades, mas sempre me perguntava o que poderia fazer para ser melhor, porque a oportunidade quem faz somos nós.” Ela conclui com o conselho: “Façam suas escolhas com amor e confiança. Não esperem que os outros façam por você, e sigam sem medo dos obstáculos, que existem para gente aprender com eles e não para nos derrubar”.
Joseane conta a importância do rompimento do ciclo de violência
A Assistente Social Joseane Bernardes conta que cuidar das mulheres no Instituto Bem Querer Mulher é uma paixão e uma missão de vida. “Cuidar de mulheres fragilizadas, que muitas vezes nem sabem explicar o tipo de violência sofrem, é oferecer a elas um atendimento humanizado e fortalecedor, porque isso é fundamental para o encerramento de ciclo de violência.”
Ela conta que o Projeto JUSTICEIRAS tem sido importante instrumento de denúncia de violências. E entende que, atualmente, as mulheres estão mais conscientes da sua autonomia para realizar suas próprias vontades. “As mulheres estão se fortalecendo e se tornando donas de si, recuperando sua autonomia, que muitas vezes foi perdida dentro de relacionamentos abusivos. A vítima é geralmente a última pessoa a perceber que está passando por um relacionamento abusivo. Muitas vezes, ela está passando por uma violência psicológica sutil, mais fácil de ser percebida por terceiros. E o conselho que eu dou nestes casos é: Se você percebeu alguém passando por isso, abrace, acolha essa vítima e, se preciso, peça ajuda por ela!”.
Ana Paula conta sobre o fortalecimento do tema na juventude
Ana Paula inicia explicando que falta muito entendimento da sociedade sobre a realidade das periferias. “Eu presencio famílias com lares sem ausência de banheiros e sem estrutura adequada para o estudo, por exemplo.” Ela conta que, para entender a evasão feminina nos cursos de capacitação oferecido pela organização, realizaram uma pesquisa no território onde atuam, e a pesquisa demonstrou que jovens entre 15 e 17 anos já estão em defasagem escolar, sem projetos de vida para o futuro e muitas meninas desse recorte estão assumindo a responsabilidade do lar.
“Na rotina de atividades da Afago, a gente traz muito esse diálogo sobre a diversidade, para fortalecer as meninas e desenraizar dos meninos essa visão social da figura da mulher. Nós temos ainda, em outros ambientes de trabalho, homens em situação de insubordinação, não aceitando que uma mulher diga o que ele deve fazer. Há também a desigualdade de salário no setor privado, em que a mulher é remunerada com valor inferior ao homem. Para mudar essa realidade, a gente persiste em abrir esse diálogo sobre a masculinidade contemporânea e a construção de novas histórias com muito respeito entre homens e mulheres. E essas conversas se entendem também sobre a distribuição das funções domésticas”, explica a coordenadora.
Lembrando do seu passado, Ana Paula conta que o caminho que ela escolheu para não aceitar situações de violência foi o da educação. “Precisamos de muita força interna para não aceitar situações de violência, sejam aquelas que nos diminui, nos silencia ou nos oprime. A mudança tem que partir de cada uma de nós”.
Rachel compartilha sua história de resiliência e superação
A executiva Rachel Maia agradece a oportunidade de compartilhar, aprender e sonhar juntos. “Enquanto tem pessoas reunidas assim, tem esperança. É ela que nos move e nos leva para frente. Tenhamos fé no correto, no transparente, no genuíno. Provavelmente você vai quebrar a cara, mas você vai continuar tentando, e todo dia você vai seguir fazendo seu melhor. É importante que cada um de nós tenha em mente: Meu futuro pertence a mim, ele é primeira pessoa do singular e construí-lo cabe a mim, sou eu quem devo articular para que as coisas aconteçam”
Nascida em bairro periférico da Zona Sul de São Paulo, Rachel faz um resumo da sua história e estimula todos a fazer suas escolhas e serem persistentes e resilientes nelas. “Nós temos que nos adornar, nos apropriar dessas escolhas e termos a certeza de que elas precedem esforços e preparação. Nossos sonhos nos levam a planejar, e executar esses planos pode nos fazer cair diversas vezes, porque a execução é difícil. Mas é importante termos resiliência, perseverança e paciência. E vocês, jovens, têm uma capacidade de inovação que deve ser valorizada”.
Dra. Anne pede que Rachel conte sobre seu programa social, o Capacita-me. Ela explica que projeto envolve formação profissional e empregabilidade, já que muitas vezes o talento está no morador da periferia, mas ele não tem ferramentas para chegar às grandes empresas. O curso oferece formação de 30 horas e, após, é direcionado ao mercado de trabalho. Rachel acredita que só a capacitação, sem empregabilidade, não é suficiente. “Empoderar é se dar o poder, sendo que a primeira forma de se dar poder é pelo conhecimento. Porque isso ninguém tira de cada um de nós.”, ela conclui.
O INW agradece a disponibilidade dessas mulheres incríveis, que ofereceram exemplos para a compreensão da equidade entre homens e mulheres e que inspiraram os jovens e adolescentes a perseverar em seus sonhos. O INW CONECTA realizará outros 4 encontros e os próximos temas a serem abordados serão: responsabilidade social e política, tecnologia e mídias digitais, mundo do trabalho, resiliência e superação.